Empresária de Curitiba voltou a pilotar na estrada após 25 anos. O público feminino de motociclistas cresceu 69,5% na última década
Os fins de semana são preciosos para quem usa a motocicleta também como forma de lazer. Porém, para Ariadne Cristine Camargo Kleuser, uma jovem curitibana de 20 anos e proprietária de uma moto esportiva, um detalhe a impedia de aproveitar completamente esses momentos: sua timidez.
A dificuldade de interagir com outros motociclistas a privou por algum tempo de curtir a liberdade e essa aventura sobre duas rodas. A ponto até mesmo de encurtar as poucas viagens que fez desde que adquiriu sua moto há cerca de um ano.
Percebendo o desafio enfrentado por Ariadne, sua mãe, Gisele Cardoso, de 51 anos, decidiu unir o amor pela filha com uma antiga paixão e tomou uma decisão importante: comprou uma motocicleta. Ela foi até a Blokton Marechal, em Curitiba, para adquirir uma Sahara 350, na época do lançamento da nova trail, em janeiro deste ano.
"Resolvi fazer uma surpresa. Ela só ficou sabendo da novidade quando cheguei em frente à nossa loja com a moto", conta a empresária, que administra com a família uma casa de artigos para festas.
Gisele Camargo retirando a sua Sahara 300 na Blokton Marechal. Foto: Renyere Trovão
"Foi uma surpresa inacreditável", disse a primogênita de Gisele. Ariadne sempre brincava com a mãe, dizendo que a levaria nos passeios na garupa, mesmo sabendo que ela não gostava de ser a carona. De tanto a filha insistir, a lojista concordou em acompanhá-la e garantiu que quando tivesse uma moto nova seria sua companhia constante.
A estreia da dupla no Rastro da Serpente
O primeiro passeio de mãe e filha aconteceu pouco tempo depois de Gisele retirar a Sahara 350 da Blokton Marechal. As duas se juntaram a um grupo de motociclistas e foram até o Rastro da Serpente, um trecho sinuoso das rodovias SP-250 e BR-476, que ligam os estados do Paraná e São Paulo.
Elas pilotaram até a Serpeteando Café, uma famosa parada turística, que fica na região de Bocaiúva do Sul, a 37 km de Curitiba.
"É muito melhor ter a mãe ao meu lado. Eu sou muito tímida para conversar. E, pelo fato de eu parecer ter 14, 15 anos, as pessoas ficam me olhando pilotar uma moto de 400 cilindradas e me perguntavam o tempo todo de onde eu vim. Ficava com aquela cara de vergonha", revela Ariadne, que desenvolveu o gosto por motos potentes em jogos no videogame.
Comemoração do Dia Mundial da Mulher Motociclista no portal da Serra da Graciosa. Foto: Arquivo pessoal
A dupla também aproveitou o Dia da Mulher Motociclista, comemorado no último dia 2 de maio, para fazer a segunda viagem, desta vez até o portal da Serra da Graciosa, nas imediações da capital paranaense.
A próxima aventura está programada para o dia 19 de maio, quando elas vão integrar um grupo de cem mulheres rumo mais uma vez ao Rastro da Serpente.
Além disso, diariamente mãe e filha também rodam cerca de 60 km de rodovia e estrada de chão. É a distância ida e volta entre a chácara onde moram, em Borda do Campo, na região de São José Pinhais, e a loja de festas que as duas trabalham, em Curitiba.
Antes da Sahara 350, Gisele chegou a ter dois modelos de motos urbanas quando era jovem e em 2019 chegou ao mundo das duas rodas ao adquirir uma Honda XLX 350R, ano 1991. Porém, a moto precisou ficar encostada na garagem. "Acho que pilotei a XLX somente duas vezes", diz.
Clientela quer se desconectar da rotina
Na Blokton, maior rede de concessionárias de motos no Paraná, a clientela feminina já representa quase metade das aquisições. Segundo Cristiano Rodrigues, consultor de vendas, muitas enxergam no veículo uma maneira de se desconectar da rotina e aproveitar momentos de lazer.
“Uma das vantagens de pilotar uma moto é se aventurar por estradas secundárias, trilhas e paisagens naturais de forma mais imersiva, aproveitando ao máximo cada trajeto. É também uma válvula de escape para o estresse do dia a dia”, salienta.
Ele acrescenta que andar de moto é uma experiência social, permitindo participar de passeios em grupo, encontros de motociclistas e eventos relacionados ao segmento. “Você conhece pessoas com interesses semelhantes e compartilha histórias e experiências sobre duas rodas”, pontua.
Gisele Camargo em frente à Blokton Marechal no dia da retirada da moto. Foto: Renyere Trovão
Público feminino só cresce
Nos últimos dez anos no Brasil, a presença feminina teve um crescimento de 69,5%, segundo dados da Abraciclo, associação que reúne as fabricantes instaladas no Polo Industrial de Manaus (AM).
O salto foi de 5,6 milhões em 2014 para 9,5 milhões de mulheres motociclistas hoje em dia. Só no Paraná, são quase 742 mil mulheres com CNH A, representando 15,4% do total da população feminina no estado (4,8 milhões). O Paraná, aliás, ocupa o terceiro posto no ranking de mulheres com habilitação para motos, atrás apenas de São Paulo (2,8 milhões) e Santa Catarina (843 mil).